O encontro "Emergência da Semente" foi também sobre isto, esta espécie de absolutismo informativo, ou, por palavras mais claras, uma certa manipulação da informação e das ideias que circulam, por parte de super-organizações que controlam a economia e actualmente estendem a sua sombra a todos os sectores. Estamos, mais do que nunca, muito próximos da sociedade totalitária descrita por George Orwell e outros inspirados pensadores.
Assim, durante dois dias reuniram-se na Costa da Caparica pessoas de vários sectores, da agricultura ao direito, preocupadas com o rumo que está a seguir a política agrícola em particular, e a sociedade em geral. No centro da discussão, a polémica lei das sementes, já discutida no parlamento europeu, e que ameaça acabar com a maior parte dos pequenos e médios agricultores, os quais têm nesta altura um contributo decisivo, em especial nos países do sul, para aliviar o peso das políticas restritivas e sufocantes dos respectivos governos. Aplicada em Portugal,nos termos em foi delineada, essa lei seria o caminho directo para a miséria geral, mesmo assim já tão presente.
O encontro, organizado pela Campanha pelas Sementes Livres, GAIA e Projecto 270, no âmbito do Projecto Sementes para o Futuro, apoiado pelo Programa Europeu de Aprendizagem ao Longo da Vida, decorreu fundamentalmente nas instalações do Projecto 270, mas contou com uma tarde aberta, no sábado, no auditório da Associação Gandaia, em plena Costa da Caparica. Nessa tarde, foi explicado, com algum pormenor, o possível impacto do propalado Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, entre a União Europeia e os Estados Unidos da América (TTIP), deixando no ar uma apreensão generalizada sobre o nosso futuro, a médio prazo. O acordo poderá ser assinado em 2015, reforçando o poder das multinacionais, dos grandes grupos empresariais, e ameaçando esmagar o pequeno e médio produtor, com impactos a nível laboral que ameaçam mudar uma sociedade, a europeia, que no século 20 foi construída com sentido solidário e políticas sociais.
Ao ouvir aquelas palavras, e ao perceber quanta coisa estará a ser discutida sem que nós saibamos, percebi também como é cada vez menos importante preocuparmo-nos com os Passos Coelho deste país; é talvez mais importante acompanhar aquilo que faz (ou não faz) o senhor Durão Barroso e comparsas; e, de entre as coisas que teremos que fazer, uma delas é o tradicional voto, e esse agora é tremendamente importante nas próximas eleições europeias. Nesta altura, crucial, da história do mundo ocidental, é fulcral puxar por uma Europa mais à esquerda; qualquer outra hipótese é o caminho aberto para uma era de trevas.