Que legume será este em cima da minha mesa? Uma maçã? Ou antes um nabo? Visto assim, é qualquer coisa de indefinível, espécie de aberração da natureza que irá, com naturalidade, diretamente para o saco do lixo. O problema é que este legume foi comprado. E não foi barato. Ainda por cima, num já bem conhecido supermercado de produtos biológicos, que está em crescendo e tem várias lojas na zona de Lisboa. Mas, deslindemos o mistério: não é uma maçã, um nabo, nem sequer um pêssego ou uma ameixa esquisita. Trata-se de um tomate. Como tal, vermelhinho por fora, deveria ser vermelhinho por dentro. Se bem criado, cultivado, se biológico como se pretende. Infelizmente, esta não foi a realidade, neste caso, na minha cozinha: ao cortá-lo, dei com um interior branco. Coloquei-o de lado, claro, e fiquei a pensar na forma cada vez mais descomprometida como se vendem produtos para as pessoas comerem. Estamos, aqui, perante uma situação em que desconfiamos da certificação -- biológico é que aquele tomate não deve ser... --, mas sobretudo em que a questão ética nos coloca muitas dúvidas. É fundamental acreditarmos nas pessoas que nos vendem comida, da mesma forma que é preciso ter certezas sobre quem a produz. Infelizmente, na sociedade que desenvolvemos criou-se um distanciamento cada vez maior entre o produtor e o consumidor. Esta situação torna cada vez mais frequentes episódios como o do tomate-maçã. É um pouco como o distanciamento criado entre o político e o seu eleitor. Precisamos de proximidade, em todos os sectores. Ou estaremos todos a enganarmo-nos uns aos outros.
Ficar fora do sistema, sem a comodidade de um salário no final do mês, coloca-nos, subitamente, diversas questões. Uma delas, das principais, tem a ver com a necessidade de reduzir os gastos, o que torna delicada qualquer incursão ao supermercado. Foi assim, com estes condicionalismos, que dei de caras com um peixe chamado Pollock, do Alasca (em Portugal, denominado paloco). No Brasil é conhecido por badejo. É um peixe da família do bacalhau -- às vezes é utilizado como substituto... --, começou a ser comercializado em grande escala a partir de 1984 e é atualmente um dos mais consumidos do mundo. No supermercado encontramo-lo congelado, em filetes enormes, a preços bastante convidativos. Por essa razão, arrisquei: um saco enorme de filetes, baratinho, e a atração pelo desconhecido. Em casa, encontrei uma receita apetecível na internet e assim me aventurei, depois de ter os filetes praticamente descongelados. Três pedaços enchiam uma travessa de ir ao forno. A surpresa chegou quando tudo ficou concluído: os filetes de Pollock tinham ficado reduzidos a metade, cada um. Quase não se viam. Um verdadeiro golpe de magia. Antes tinha peixe, no final quase não tinha. Tudo isto antes de comer. Uma boa lição, pois, para estes tempos em que tudo é permitido para enganar o consumidor: no caso destes tipos de congelados, por exemplo, vende-se água como se fosse peixe. Se alguém quiser confirmar a minha aventura, é só arriscar. Mas não recomendo..
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