Tenho um enorme respeito pelo humor, e penso que é uma das formas mais inteligentes de abordar a sociedade onde nos inserimos. Adoro, acima de todos, o Charlot, essa personagem criada pelo notável Charlie Chaplin, e ainda hoje me rio a ver os seus filmes, esquecendo a fraca qualidade de algumas imagens ou o defeito no som. Que o que interessa é o gesto. Um pouco no mesmo estilo apareceu mais recentemente o adorável Mr. Bean, absolutamente genial, mais um exemplo da arte de, com bom humor, ler a nossa sociedade. Por isso não entendo o humor (?) daqueles programas que dão à noite na nossa televisão, intitulados "5 para a meia-noite". Piadas sem graça, perguntas desconexas, um gozo e risos permanentes sem justificação aparente. O cúmulo deste pseudo-humor aconteceu há poucos dias, quando o apresentador desperdiçou completamente a oportunidade de um programa com qualidade, ao ter na sua frente dois convidados como Jorge Palma e Manuel João Vieira. Além de não ter ligado absolutamente nada ao extraordinário reportório de histórias que os dois têm para contar -- coitado, de tão jovem será que conhece as canções de Palma, e a capacidade artística, a vários níveis, de Manuel João? --, ainda houve oportunidade para tentar gozar com os dois, levando-os a uma prova de whiskies em pleno programa, uma coisa absolutamente inenarrável. Vi até ao fim, para poder apreciar Jorge Palma, acompanhado por Manuel João, a cantar "Traz outro amigo também", de Zeca Afonso. Mas só por isso.