Quarta-feira, tarde de sol, Almada, fevereiro de 2013. Pela avenida central circulam carros com dizeres vários. O principal deles é um rotundo "Não à Extinção de Freguesias". Há buzinadelas, muita gente na rua, muitos curiosos, alguns comentários. Perto de mim, dois velhotes falam agitadamente, e um deles diz, de forma bem sonora: "O que faltava cá era o Salazar!". Registo e não posso deixar de indignar-me. Aqueles velhotes, com a idade que têm, devem ter conhecido Salazar bem melhor do que eu. Mas ou a história está toda enganada, assim como as pessoas que me contaram sobre a forma como se vivia nesses tempos, ou Salazar foi tudo menos um governante apreciado. Não sei o quanto aquele velhote terá sofrido com as políticas de então, nem sequer se agora está esquecido ou simplesmente equivocado. Mas, não sendo o primeiro a quem ouço tal coisa, concluo que faz parte de um lote de portugueses, talvez mesmo uma geração, que sempre viveu tão longe das questões da política que é incapaz de ter uma opinião sólida, personalizada, sobre a forma como se deve governar um país. Esta é a geração que sempre se deixou ficar no seu lugar, enquanto o "Paizinho" governava a seu bel prazer. Quero, hoje, acreditar que essa geração não deixou raízes nesse aspecto, e que alguns anos de democracia e liberdade neste país permitem a um maior número de portugueses a capacidade de pensar por si próprios, não se alheando das decisões de quem governa.
A reflexão veio mesmo a propósito. A extinção das freguesias é uma das formas de voltarmos a "reactivar" esse distanciamento entre o cidadão e o governante. Até aqui, a Junta de Freguesia era a forma mais próxima de governo permitida pelo nosso sistema político. Portanto, a mais democrata e mais justa. Porque, como se vê, o distanciamento entre o governo central e os cidadãos é tão grande que um ministro nem sequer é capaz de cantar decentemente a "Grândola". Extinguir freguesias só vai aumentar esse distanciamento. Vai gerar mais problemas do que resolve. Entre outras coisas, vai deixar "à toa" um grupo muito numeroso de portugueses. Que, à falta de melhor, são capazes de recorrer a uma memória deturpada e até apelar a um tal Salazar...
A reflexão veio mesmo a propósito. A extinção das freguesias é uma das formas de voltarmos a "reactivar" esse distanciamento entre o cidadão e o governante. Até aqui, a Junta de Freguesia era a forma mais próxima de governo permitida pelo nosso sistema político. Portanto, a mais democrata e mais justa. Porque, como se vê, o distanciamento entre o governo central e os cidadãos é tão grande que um ministro nem sequer é capaz de cantar decentemente a "Grândola". Extinguir freguesias só vai aumentar esse distanciamento. Vai gerar mais problemas do que resolve. Entre outras coisas, vai deixar "à toa" um grupo muito numeroso de portugueses. Que, à falta de melhor, são capazes de recorrer a uma memória deturpada e até apelar a um tal Salazar...