Ouço, com alguma estupefacção, resultados sobre a entrevista de José Sócrates ao canal público televisivo. Enorme audiência, o melhor “share” de sempre para uma entrevista (ainda por cima de um político…), e não deixo de me espantar. E interrogar. Das duas uma: ou nos estão a mentir, com estes dados estatísticos, e nesse caso confirma-se que estamos rodeados de agentes pouco fiáveis e provavelmente incompetentes; ou os dados estatísticos apresentados são verdadeiros, e nesse caso dão conta de outra realidade decepcionante, a de que temos uma população sem espinha e sem orgulho – pelo menos aquela que vê televisão… --, capaz de gastar boa parte do seu precioso tempo a ouvir as explicações e argumentações de alguém que contribuiu de forma inequívoca para a caminhada para a miséria que actualmente é trilhada pelo povo português. Estou em crer que se aproxima mais da realidade esta segunda hipótese. E mais uma vez confirma-se, nesse caso, que a situação com que habitualmente todos nos debatemos tem essencialmente a ver com a nossa própria atitude perante as coisas, com esta resignação e subserviência que ao longo de décadas, talvez séculos, o povo português se habituou a cultivar, tornando-a na sua própria matriz, explicação primeira para o facto de, século após século, Portugal ser um país de misérias, dificuldades, e nunca de evidente crescimento sócio-económico. Os portugueses são bons nas críticas, mas na hora de tomar uma decisão concreta, que implique uma mudança real no sistema, não avançam nesse sentido. Rapidamente perdoam aos poderosos que mais mal lhes fizeram, simplesmente porque se habituaram a respeitar (ou temer?) o poder. Bastou, pois, que Sócrates regressasse, para toda a gente ir a correr ver, e ouvir, o que ele tinha para dizer.
Percebe-se, pois, uma frase que muito caracteriza este país: não há nada que esteja mal que não possa ficar pior.
Percebe-se, pois, uma frase que muito caracteriza este país: não há nada que esteja mal que não possa ficar pior.