Que legume será este em cima da minha mesa? Uma maçã? Ou antes um nabo? Visto assim, é qualquer coisa de indefinível, espécie de aberração da natureza que irá, com naturalidade, diretamente para o saco do lixo. O problema é que este legume foi comprado. E não foi barato. Ainda por cima, num já bem conhecido supermercado de produtos biológicos, que está em crescendo e tem várias lojas na zona de Lisboa. Mas, deslindemos o mistério: não é uma maçã, um nabo, nem sequer um pêssego ou uma ameixa esquisita. Trata-se de um tomate. Como tal, vermelhinho por fora, deveria ser vermelhinho por dentro. Se bem criado, cultivado, se biológico como se pretende. Infelizmente, esta não foi a realidade, neste caso, na minha cozinha: ao cortá-lo, dei com um interior branco. Coloquei-o de lado, claro, e fiquei a pensar na forma cada vez mais descomprometida como se vendem produtos para as pessoas comerem. Estamos, aqui, perante uma situação em que desconfiamos da certificação -- biológico é que aquele tomate não deve ser... --, mas sobretudo em que a questão ética nos coloca muitas dúvidas. É fundamental acreditarmos nas pessoas que nos vendem comida, da mesma forma que é preciso ter certezas sobre quem a produz. Infelizmente, na sociedade que desenvolvemos criou-se um distanciamento cada vez maior entre o produtor e o consumidor. Esta situação torna cada vez mais frequentes episódios como o do tomate-maçã. É um pouco como o distanciamento criado entre o político e o seu eleitor. Precisamos de proximidade, em todos os sectores. Ou estaremos todos a enganarmo-nos uns aos outros.