Pessoa de grande sensibilidade, o "homem elefante" foi descoberto num circo de aberrações, onde era tratado brutalmente depois de ser exibido a humanos ávidos por gozar com uma imagem impressionante. O filme de David Lynch, realizado em 1980, marcou-me profundamente, e certamente a muitos mais milhares de cinéfilos por esse mundo fora. E, embora já tenha mais de três décadas, está sempre atual, e frequentemente o recordo, quando confrontado com alguns episódeos, aparentemente "normais", do nosso dia a dia. Aconteceu-me isso esta semana quando, por mero acaso, o meu comando televisivo me situou nessa "referência" da nossa programação televisiva que é a "Casa dos Segredos". E parei exatamente no momento em que uma concorrente, muito jovem, com um discurso extraordinariamente ingénuo, e um sotaque algarvio que não engana, era ridicularizada por toda a gente na sala, e provavelmente também nas casas onde se assistia ao programa. Ridicularizada porque lhe faziam perguntas, simples, às quais não sabia responder; porque lhe pediam para pronunciar palavras, em português normal, que ela não conseguia dizer; porque passaram um filme das suas atividades na dita "Casa" em que protagonizava os mais anedóticos episódeos, sempre numa total ingenuidade. Não, não se trata de uma atriz cómica. Apenas de uma pessoa simples, que não aprendeu a falar melhor ou a saber mais. Como acontecia com o "homem elefante", as suas limitações, enormes condicionalismos, estavam a ser aproveitados, descaradamente, para o espectáculo, suscitando algo do pior que mora na alma humana: menosprezar o próximo, rir da sua inferioridade, gozar com os seus problemas. Não é este o caminho certo, se queremos contribuir para uma sociedade mais justa e solidária, onde todos nos respeitemos. Se rimos de uma situação destas, quem está com verdadeiros problemas somos nós. É, pois, uma pena que, mais de trinta anos depois de "O Homem Elefante", este tipo de entretenimentos ainda tenha lugar na nossa sociedade.
Lembro-me bem da primeira vez que vi "O Homem Elefante". O filme extraordinário e é impossível ficar indiferente à história de John Merrick.
Obrigatório.
Se me permite a minha humilde opinião, embora não seja assídua da televisão nem naturalmente da casa dos segredos, calculo no entanto o cenário, uma vez que os ingredientes dentro dessa casa foram misturados propositadamente para gáudio dos espetadores.
Assim parece ser o objetivo desse programa. Divertir alienando-nos e trazer à superfície o que de mais patético e mesquinho tem a criatura humana.Ser um macaco ou passarinho dentro de uma jaula ou gaiola sem que a sua consciência se dê conta de onde está.
Gozamos com aquele que é diferente e sai do que consideramos ser as normas estéticas da sociedade humana. Somos cruéis. sem humanidade e dignidade. Não nos vemos pessoalmente ao espelho e apontamos defeitos aos outros, sentindo-nos (de forma falsa) superiores.
Ainda temos neste século vinte e um. uma caminhada extensa a percorrer em termos éticos.
A formação e educação é fundamental. No seio da família, nos infantários e nas escolas ainda está por fazer todo um trabalho de alerta para o respeito que um ser humano deve para com outro ser humano. Ninguém é instrumento de ninguém e os meios nem sempre justificam os fins. ( Não nos podemos servir uns dos outros como objetos.) Simplesmente porque o fim que nos propomos alcançar baseia-se na incongruência, no desrespeito, na maldade, na violência. O fim supremo e a respeitar seria sempre o da dignidade humana. E esse fim esquecemos! Colocamos como metas o dinheiro, o poder, o consumismo. E eis que a sociedade desaba perante os nossos olhos, porque poder dinheiro e consumismo não são pilares para sociedade nenhuma que se quer feliz e duradoura!
Este tipo de sociedade faz pessoas intolerantes, egoístas, que nem sequer sabem o significado de moral. A ética não reside nos seus dicionários.
Vamos na direção errada.
Aceitar o outro na sua diferença, contribuir para o bem estar de todos, seria um passo de bebé que era imperativo começar a efetuar.