Sentei-me, à espera, na estação dos correios. Faltavam dois números para ser atendido. Uma senhora já idosa, de uns 70 anos, sentou-se ao meu lado. Tinha uma senha na mão, que mirava indecisa.
-- Não sei se tirei bem...
-- É a senha A. Está bem. -- disse-lhe.
-- Pois, é que eu não sei ler... os números ainda sei ver quais são, mas as letras...
E, rodando a senha entre os dedos, começou a contar-me a história da sua vida.
-- Os meus pais, lá no Alentejo, não tinham dinheiro para mandar os filhos para a escola. Éramos três, mas só um, o rapaz, pôde ir aprender a ler. Mas o meu irmão não gostava da escola. Mesmo nada. Mais tarde, quando foi para a tropa, puseram-no outra vez a aprender. E ele nada... Hoje, felizmente, é uma pessoa decente, tem uma empresa de construção, que vende coisas para a casa de banho... mas não vende nada, sabe? A situação está muito má...
A história desta senhora fez-me pensar na história recente deste País. Fez-me pensar numa geração em que muita gente não teve possibilidade de aprender a ler e escrever, porque não havia dinheiro para ir para a escola. Os tempos actuais, em que cada vez mais se "apaga" o ensino público e mais ou menos gratuito, faz crescer o receio de que possamos em breve voltar a estes tempos. Aquela história também me fez pensar na forma como os pais escolhiam os filhos que podiam ir para a escola. Geralmente, o rapaz, que a rapariga teria mais que fazer quando fosse grande, como cuidar dos filhos, fazer a comida e limpar a casa. E assim era, mesmo que o rapaz não quisesse ir para a escola e a rapariga sofresse com o desejo de aprender a ler. A senhora que falou comigo na estação dos correios ainda estava magoada por não ter tido essa possibilidade. Acredito que hoje, nos nossos dias, as coisas terão mudado um pouco. Mas como será se regressarmos a essa situação em que os pais, entre dois filhos de sexos diferentes, tenham que optar por um deles na questão do ensino?
-- Não sei se tirei bem...
-- É a senha A. Está bem. -- disse-lhe.
-- Pois, é que eu não sei ler... os números ainda sei ver quais são, mas as letras...
E, rodando a senha entre os dedos, começou a contar-me a história da sua vida.
-- Os meus pais, lá no Alentejo, não tinham dinheiro para mandar os filhos para a escola. Éramos três, mas só um, o rapaz, pôde ir aprender a ler. Mas o meu irmão não gostava da escola. Mesmo nada. Mais tarde, quando foi para a tropa, puseram-no outra vez a aprender. E ele nada... Hoje, felizmente, é uma pessoa decente, tem uma empresa de construção, que vende coisas para a casa de banho... mas não vende nada, sabe? A situação está muito má...
A história desta senhora fez-me pensar na história recente deste País. Fez-me pensar numa geração em que muita gente não teve possibilidade de aprender a ler e escrever, porque não havia dinheiro para ir para a escola. Os tempos actuais, em que cada vez mais se "apaga" o ensino público e mais ou menos gratuito, faz crescer o receio de que possamos em breve voltar a estes tempos. Aquela história também me fez pensar na forma como os pais escolhiam os filhos que podiam ir para a escola. Geralmente, o rapaz, que a rapariga teria mais que fazer quando fosse grande, como cuidar dos filhos, fazer a comida e limpar a casa. E assim era, mesmo que o rapaz não quisesse ir para a escola e a rapariga sofresse com o desejo de aprender a ler. A senhora que falou comigo na estação dos correios ainda estava magoada por não ter tido essa possibilidade. Acredito que hoje, nos nossos dias, as coisas terão mudado um pouco. Mas como será se regressarmos a essa situação em que os pais, entre dois filhos de sexos diferentes, tenham que optar por um deles na questão do ensino?