Poemas
Os poemas acompanham-me desde sempre. Ainda na Escola Secundária de Coruche, ganhei um prémio com um poema escrito na altura, e recebi, encantado, um volume com poemas de Fernando Pessoa. Foi um vício para sempre.
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Ar
Do que precisamos nós para respirar? Do ar, dizem. E das outras coisas... Dos amigos com quem falamos, do texto que escrevemos, dos jogos que ganhamos, dos livros que lemos. Do que precisamos para respirar? De tudo em volta e do ar cada vez menos. |
Margem da Ternura
As pessoas passam
a uma margem da ternura como quem caminha pelo lado de um rio. Como pássaros pequenos ensaiam o voo para o outro lado. As pessoas caem na margem da loucura sem asas para a amargura. |
E Terna a Ferida
O homem morreu
debruçado na janela. Os olhos abertos, muito abertos, fixados nela. Deitavam luz, eram vida. Era e terna a ferida. |
O sol, algures
O sol brilha
algures. Por trás do ombro do mendigo da frente? Para lá da serra aonde temos que subir? Será que brilha ou é ilusão do nosso olhar? Poderá estar perto o que tão longe parece? Existe mesmo o mar ou é o coração que adormece? |
Vulto
Um vulto caminha
na minha direcção, inocente e desprotegido. Admiro a coragem, a audácia, aquela imagem de rapazinho insensato. Não tem couraça nem sorriso falso, é apenas um vulto, um homem sem contrato. |